Textos

Olhando… se vendo: big Brother Brasil.

Alex Sandro Alves de Azeredo

*Texto escrito em 2000.

Observação: Quando escrevi esse artigo, estava ainda no ar o primeiro Big Brother Brasil.Como vocês podem ver, já se faz algum tempo que este artigo foi redigido, devido a isso, acho importante relembrar ao leitor algo sobre os participantes do BBB 1e como eles se comportavam no meu ponto de vista:

Caetano: Homem de meia idade. Ficou muito triste e magoado quando foi indicado para o primeiro paredão. Quando o pessoal da casa recebeu de presente uma cadela, ele se apegou bastante a ela e a escolheu como confidente, tendo contato com o pessoal da casa apenas quando nescessário.

Bruno: Um rapaz de boa aparência, rico, falava três idiomas. Mimado, infantil e imaturo, segundo os participantes do programa

Bambam: Um rapaz musculoso. Não tinha muito estudo. Construiu uma boneca de lata “Eugênia”, e a ela, contava seus segredos e dores. Foi o grande vencedor do BBB1

Sérgio: Um gringo, inteligente. Foi o namorado de Vanessa durante todo o programa. Não se mostrou no programa .

André Gabé: Um rapaz com uma voz impecável. Se enturmou muito com as moças da casa. Quando lhe perguntaram se ele era gay, ele respondeu que não tinha sexo.

Alessandra (Leca):  Uma jovem bastante bonita. Sofria de Bolimia e bebia até cair.

Vanessa: Namorada de Sérgio. Totalmente neutra no programa.

Adriano: Um baiano que não consegiu fazer muitas amizades.

Xaiane, Estela, Helena, Cristiana: Também participaram do programa.

Fiquei pensando sobre o Big Brother Brasil (BBB). Assisti a 1ª edição e torci muito. Às vezes penso: será que eu conseguiria ficar dois meses enfurnado numa casa? Eu que gosto tanto de andar, de ir à praia, ver gente… Talvez até surtaria!!

Deve ser interessante e ao mesmo tempo assustador, saber que todos me olham.Todos olham… Mas porquê olham? Porquê ficam sentados em frente à televisão assistindo a privacidade dos outros? O que estão querendo ver? Quem estão querendo ver?

Não sei se posso pensar que os doze participantes do 1º BBB são os representantes da nossa sociedade. Ou indo até mais fundo, que eles são o espelho, a referência de nós mesmos, que quando assistimos o BBB, estamos nos assistindo. Estamos nos vendo. Somos nós.

Nada a ver ? Viajei ? É, pode ser, mas me permitam continuar viajando. A professora do Departamento de Psicologia da Ufes Vânia Reis, no Dia Internacional da Mulher, participou de um debate sobre a ascensão da mulher na sociedade durante os anos. Ela apresentou um estudo que mostrava como houve essa transformação do lugar feminino e do lugar masculino, principalmente no âmbito familiar nas décadas de 50, 80 e 2000. No estudo da professora ela resgata três seriados de televisão de cada época, muito famosos então.

Em 1950 havia o seriado Papai Sabe Tudo, onde o lugar central pertence ao homem. A mulher está apenas como coadjuvante. O homem é quem comanda, ele é quem lidera.

Na década de 80 havia o seriado Família Dó Ré Mi, que conta a saga de uma mulher que tem que criar cinco filhos sozinha, porque o marido a abandonou. Onde está o lugar do homem? Não existe mais. Foi abandonado, foi substituído.

Na década de 2000 é o seriado Os Simpsons que está em voga. Nesse seriado é a mulher quem lidera. É a mulher quem toma as decisões . O homem volta a ter lugar, só que este é representado por um homem babaca, imbecil, beberrão, neutro para não falar inútil, etc, etc, etc.

O homem volta a ter um lugar, só que agora um lugar ridicularizado, onde ele não serve para nada, onde é manipulado por tudo e por todos.

O BBB me fez pensar como está o lugar do homem e da mulher em nossa sociedade de hoje. Como está sendo representado o lugar do homem e da mulher? Que “tipo” de homens e de mulheres temos no BBB? Nele temos homens musculosos, bonitões, mas burros iguais a uma porteira, como diria a minha avó. Temos homens intelectuais, letrados, poliglotas, mas sem nada para oferecer.Temos homens que acreditam piamente que o melhor amigo do homem é um cachorro, ou uma boneca de lata e devido a isso, se esquivam do animal homem e do homem carne e osso. Temos homens que falam que não têm sexo. Se não têm sexo, não são homens, mas também não são mulheres. Temos homens chorões e outros fortes como rocha. Temos homens centrados, que aparentam ter algum caráter, mas não se mostram, não se permitem conhecer. Temos mulheres lindas e maravilhosas, mas fúteis. Temos mulheres bolímicas, onde comem tudo e depois quase morrem de tanto vomitar. Temos mulheres beberronas, que vivem de ressaca em ressaca.Temos mulheres que choram à toa e outras que tem que se mostrar fortes.

Paro agora para refletir. De quem estamos falando? Estamos falando dos 12 participantes do BBB ou estamos falando de nós mesmos? Creio que estamos falando de todos nós.

Muitas vezes nos escondemos na nossa força muscular ou no nosso intelectualismo e não nos permitimos SER. Muitas vezes queremos chorar, mas “os outros” têm que pensar que somos fortes, afinal de contas, se chorarmos, o que vão pensar de nós? E devido a isso, não podemos SER. De outra forma, muitas vezes só conseguimos chorar e não reagimos, porque não temos força. E o nosso EU se perde.

Quantas vezes engolimos todas as podridões do mundo, engolimos o ódio , a raiva, o preconceito de todos, da família, do pai, da mãe, do colega, do professor, do cara ao lado no ônibus e depois vomitamos tudo isso nas pessoas que nos rodeiam e reproduzimos essa bolimia social.

Muitas vezes não confiamos em ninguém. É melhor confiar nos cachorros e nos cachorrinhos a confiar no homem, e aí vem a solidão e o nosso Eu de novo se perde. Hoje, quantos não assumem o seu lugar de pai, o seu lugar de mãe, o seu lugar de homem , o seu lugar de mulher. Não tenho sexo! Se não tenho sexo, não tenho um lugar. Então não me cobrem nada. Se não tenho sexo, eu não SOU.

Falando em ser homem, falando em ser mulher… O que vem a ser isso? Hoje, parece estar muito confuso para o jovem definir este lugar. O que é ser homem? O que é ser mulher? Estamos perdendo a referência. Que exemplo seguir? ” Eu imito meu pai., mas meu pai não, ele não é um bom exemplo. Então eu imito a minha mãe, que foi pai e mãe ao mesmo tempo. Mas ela não é homem? Eu imito quem então?! A quem sigo como exemplo?!” Será mais fácil fugir da responsabilidade de SER, e dizer eu não tenho sexo?

Do Papai Sabe Tudo aos Simpsons, o homem sofreu uma trágica transformação. Ele se perdeu. Saiu do lugar de “todo o poderoso” para o “todo o nada”. Isso tem confundido os jovens, tem nos ameaçado.

Em relação à mulher, ela saiu do lugar de uma simples coadjuvante, para o lugar principal, de líder, de chefe do lar. Os homens a deixaram só. Eles fugiram! Será que as mulheres querem essa responsabilidade? Será que não tem pesado para elas esse lugar?

Estamos vivendo uma época onde está muito difícil SERMOS nós mesmos. Está muito difícil nos assumirmos, ser quem queremos ser, e com isso, nosso eu se perde. Quando isso acontece os outros “eus” tomam forma, os outros “eus”, que eu chamo aqui, de eu-outro, impostos pelos pais, pelas mães, pelos outros.

O eu-outro que é bonzinho, por que todos querem que sejamos bonzinhos, mas quando na realidade o nosso eu-próprio quer ser bravo, quer enfrentar a vida, não abaixar a cabeça.

O eu-outro que se mostra forte, mas na realidade o eu-prório quer chorar, quer berrar, quer se mostrar fraco, carente. O eu-próprio quer ser abraçado, quer abraçar, quer se relacionar. Ele quer ser, enquanto o eu-outro o segura, o cala. E o nosso eu-próprio se perde.

Creio que o BBB 1 veio retratar de todos esses “eus” e o BBB 2 não será diferente. Ele ainda vem falar de nós.

Qual “eu” tem falado em nós? Estamos SENDO? Estamos alcançando o Devir humano, o Ser enquanto Ser? Ou estamos nos permitindo, por ser mais cômodo, viver num esconderijo, numa masmorra interna, seja ela física, intelectual ou de outra forma qualquer, onde relacionamentos não existem, onde o ser e o outro não se encontram, onde eu escolho não ser, onde o meu eu se perde?

Não sei se minha “viagem” é pertinente, não sei se ela faz sentido para você. Se fez, que ótimo! Se não fez brother, que pena! Um big abraço.

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