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Uma reflexão acerca da consistência teórica das psicoterapias humanistas.

Georges Daniel Janja Bloc Boris

*Texto publicado na Revista de Psicologia, Fortaleza, 5 (1): pág. 69 a 75, Jan/Jun, 1987.

Resumo

O trabalho trata da falta de consistência teórica das psicoterapias humanistas. [Mais...] Expõe conceitos do filósofo Martin Buber: atitudes Eu-Tu e Eu-Isso, diálogo e encontro. Refere-se às repercussões destes conceitos sobre as psicoterapias humanistas, mais especificamente a exacerbação dos aspectos vivenciais e o conseqüente empobrecimento teórico destas abordagens. Propõe uma retomada do estudo da fenomenologia e do existencialismo à luz de Edmund Husserl, Maurice Merleau Ponty e Martin Buber.

ABSTRACT

A Reflection about Theoretical Consistency of Humanistic sychotherapy

The work is about the lack of theoretical consistence of the humanistic psychotherapies. It exposes the philosopher Martin Buber’s concepts: Thou and I It attitudes (Buber, 1965), dialogue and encounter. The work also refers to these concepts repercussions, more especially the exacerbation of the experiencial aspects and the consequent theoretical impoverishment of these approaches. It proposes a retaking of the study of phenomenology and existencialism in the light of Edmund Husserl, Maurice Merleau Ponty and Martin Buber.

O objetivo deste trabalho consiste em contribuir com uma reflexão a respeito de algumas argumentações freqüentemente feitas contra as psicoterapias humanistas no que se refere a uma possível falta de consistência teórica e científica, atribuindo-Ihes como metodologia simplesmente a subjetividade e a intuição.

Sendo psicoterapeuta já há alguns anos, tenho me perguntado acerca destas questões. Ate onde estas críticas são válidas? Em que medida as próprias abordagens humanistas têm contribuído para com a falácia sobre sua acientificidade? O que é e como deve ser a relação psicoterápica nestas abordagens? São estas algumas das questões que se pretendem tratar aqui.

Mais recentemente, no exercício do magistério superior, ao abordar questões relativas à fenomenologia, ao existencialismo a ao humanismo, venho travando contato com o pensamento marcante de Martin Buber, que parece iluminar com suas idéias as colocações que se seguirão.

Após uma breve apresentação de dados gerais sobre o pensamento de Buber, são expostas suas principais contribuições, especialmente aquelas que se servem à psicoterapia. Seguem-se considerações acerca das prováveis repercussões sobre as psicoterapias humanistas, basicamente a cisão encontro x teorização e, finalmente, algumas propostas de solução no sentido da consistência técnica para a realização da psicoterapia.

1. AS ATITUDES BÁSICAS DO SER HUMANO

A obra de Buber é marcada essencialmente pela busca do sentido da existência humana, visando ao resgate da sua responsabilidade pela construção de um mundo mais condizente com este sentido humano. Buber baseia suas indagações no diálogo, considerado por ele como a categoria existencial por excelência, propondo a compreensão da realidade humana através do prisma do dialógico, ou seja, do vínculo entre a experiência vivida (ação) e a reflexão (pensamento). Suas reflexões partem, portanto, das experiências vividas, que adquirem assim um alcance político, pois o diálogo é a base da formação das comunidades humanas, deixando de ser, conseqüentemente, um mero conceito abstrato, para descrever uma experiência concreta (Zuben in: Forghieri, 1984).

Buber (1977) afirma existirem duas atitudes básicas, duas formas de existir ou de ser-no-mundo, que alternam-se ao longo da existência humana: as atitudes Eu-Tu e Eu-lsso. Não se tratam de dois tipos de homem, mas duas posturas presentes em todos nós, em nossa relação com o outro, com as coisas e com o mundo.

Na atitude Eu-Tu, o homem integra-se completamente com o mundo, numa totalidade caracterizada pelo envolvimento, pela integração dos opostos, desaparecendo as peculiaridades e contradições individuais. O Tu não necessariamente é uma pessoa, podendo referir-se a animais, elementos da natureza, obras de arte ou divindades.

Podemos caracterizar como aspectos essenciais referentes à relação Eu-Tu (Zuben in: Forghieri, 1984):

a) reciprocidade: trata-se de uma dupla ação mútua entre os parceiros da relação. Cada pessoa-sujeito pressupõe a existência da outra, pois a ausência de uma delas põe fim à inter-relação, à reciprocidade. É nas relações humanas que a reciprocidade atinge o máximo de intensidade.

b) presença: ou o momento da reciprocidade. É esta presença que garante a alteridade, a diferença entre o Eu e o Tu, o que propicia o surgimento de um Nós, uma totalidade de pessoas independentes, que se escolhem entre si.

c) imediatez: a relação Eu-Tu ocorre aqui-e-agora, é direta, imediata. Nada se interpõe entre os parceiros (idéias, preconceitos, representações). O Eu se relaciona com a presença recíproca do Tu e não com a sua imagem.

d) responsabilidade: o conceito de responsabilidade deve ser entendido não como um dever ético ou uma obrigação moral, mas como habilidade de resposta (Buber, 1982; Perls, 1977). “A verdadeira responsabilidade se encontra onde há possibilidade de resposta” (Zuben in: Forghieri, 1984, p. 81).

“Responder a quê?” – indaga Buber (1982). “Responder ao que nos acontece, que nos é dado ver, ouvir, sentir” (p. 49). Eu e Tu respondem à situação presente, ao que o outro lhe apresenta. Portanto, responsabilidade pressupõe disponibilidade para estar totalmente com o outro (noção de encontro), pois o homem é um ser-com, um ser de relações (Zuben in: Forghieri, 1984).

Entretanto, a relação Eu-Tu é uma experiência fugaz, rara a difícil. O homem não suporta manter um envolvimento tão intenso constantemente. Ele se afasta, se recolhe e o Tu tende a tornar-se um Isso, permanecendo em estado latente, enquanto possibilidade. Compreende-se, assim, que o Isso não necessariamente refere-se a coisas ou objetos.

Segundo Forghieri ([org.], 1984), o que caracteriza a relação Eu-Isso é a separação, o distanciamento entre o Eu (Egótico) e o Tu (Isso, Ele, Ela). O Egótico afasta-se, lidando com o Isso enquanto objeto do conhecimento a da ação (Zuben in: Forghieri [org.], 1984). Ainda de acordo com Zuben, Buber destaca, entre as modalidades da relação Eu-Isso, a experiência. Trata-se de um relacionamento de certa forma unidirecional entre o Eu (Egótico) e um objeto manipulável (lsso), caracterizado pela coerência espaço-temporal, delimitada e coordenada. O Egótico encerra em si toda a iniciativa da ação, não se voltando para o outro. É a própria atitude científica.

Não se deve encarar a relação Eu-Isso como algo negativo, pois trata-se de uma das atitudes humanas frente ao mundo, que permite-nos apreender as conquistas técnico-científicas da humanidade. É mais duradoura e estável, propiciando ao homem sensação de segurança. Torna-se negativa quando submete o homem, levando-o à decadência de seu poder de decisão, de responsabilidade a de disponibilidade para o encontro. “E com toda a seriedade da verdade, ouça: o homem não pode viver sem o Isso, mas aquele que vive somente com o Isso não é homem” (Buber, 1979; p. 39).

2. REPERCUSSÕES SOBRE AS PSICOTERAPIAS HUMANISTAS: TEORIZAÇÃO X ENCONTRO

As concepções de Buber sobre o encontro e o diálogo e suas reflexões baseadas nas atitudes Eu-Tu a Eu-Isso propiciaram uma proposta de relação psicoterápica sob um novo prisma (Buber, 1965; Zuben in: Forghieri [org.], 1984). Partindo da experiência­cia concreta, vivida, Buber sugere uma superação do primado da ciência sobre o vivido. Mesmo reconhecendo a necessidade e, mais do que isso, a imprescindibilidade­do conhecimento científico na psicoterapia, a relação psicoterápica deixa de ser um mero vínculo Eu-Isso entre um cientista e seu objeto, para tornar-se um encontro entre duas pessoas, de sujeito-a-sujeito.

Surgindo como uma reação aos métodos das psicoterapias positivistas (di­cotomia sujeito-objeto; objetividade; experimentação), as psicoterapias humanistas­tas tendem a utilizar uma metodologia que se contrapõe à anterior, ou seja, o método fenomenológico: intuição originária ou das essências; intencionalidade e inter-subjetividade; redução ou abstenção fenomenológica (Angerami, 1985).

Adotando a metodologia fenomenológica, pode-se verificar que as psicoterapias­humanistas elegem a atitude Eu-Tu como a forma de relação psicoterápica por excelência. Psicoterapeuta e cliente são cada vez mais compreendidos como duas pessoas, envolvidos numa relação de sujeito-a-sujeito, essencialmente igualitária, baseada na inter-subjetividade, intuição e afetividade.

Por outro lado, a atitude Eu-Isso tende a ser relegada a segundo plano e até mesmo vista como prejudicial, como um vinculo objetivante e frio, onde o psicoterapeuta (cientista-sujeito) age sobre o cliente (objeto manipulável). Cria-se um pudor em relação ao saber científico, como se este propiciasse relações mecânicas e pré-determinadas. Esquece-se que uma das condições básicas para toda e qualquer relação é a alteridade*, a diferença, e que psicoterapeuta e cliente, apesar da semelhança das experiências concretas humanas, são evidentemente diferentes. O cliente busca ajuda profissional e humana, enquanto o psicoterapeuta detém o suposto poder‑saber; o psicoterapeuta oferece um dado serviço e o cliente paga pelo mesmo. Portanto, o que diferencia essencialmente psicoterapeuta e cliente e o saber científico.

Percebe-se, assim, que as psicoterapias humanistas retomam questões básicas para a relação psicoterápica: a atitude Eu-Tu, o movimento dialógico e o encontro. Por outro lado, exacerbando estes componentes, perderam indubitavelmente no que se refere à consistência teórica. Não me parece por acaso que, freqüentemente, tenhamos a impressão (como alguns pensam), de que para se ser um bom psicoterapeuta humanista bastaria ser dotado de intuição, ter disponibilidade para o encontro e afetividade.

Assim, parece ter ocorrido, ao nível das psicoterapias humanistas, uma dicotomia entre o encontro e a teorização, como se estes dois pólos não pudessem e não devessem estar intrincados numa síntese dialética. Em alguns casos, chega-se a certos exageros, caindo-se no chamado “fetiche da vivência” (Drawin, 1985, p. 14) e a relação psicoterápica corre sobre trilhos suspensos no ar, sem a devida fundamentação no terreno teórico.

Que conseqüências advêm de tudo isto para as psicoterapias humanistas? Constata-se inevitavelmente que as psicoterapias humanistas parecem desequilibradas, isto é, assentadas, por um lado, nos aspectos referentes às questões da relação psicoterápica, mas, por outro lado, atrofiadas quanto à consistência teórica.

A lacuna quanto à teorização evidencia-se claramente num dos aspectos mais salientados entre as psicoterapias humanistas: a valorização dos sentimentos. Se esta valorização, na verdade, é positiva, já que nossos sentimentos são os motivadores de nossa ação e, portanto, de nossas mudanças, no entanto, implica, muitas vezes, no que poderíamos chamar de uma fobia ao racional. O cliente, e freqüentemente o psicoterapeuta, são induzidos a agirem a partir apenas de seus sentimentos. Este estado de coisas representa, mais uma vez, uma visão de homem dicotomizada. Reagindo à posição anterior (positivista), que supervalorizava a racionalidade e o pensamento, as psicoterapias humanistas parecem, por vezes, conceber um homem sem cérebro, movido por um coração, mas incapaz de pensar.

Diante desta situação, não bastaria ater-se à constatação e às críticas. É preciso buscar caminhos que nos reconduzam, enquanto psicoterapeutas humanistas, a uma concepção de psicoterapia mais globalizadora e totalizante.

3. ALGUMAS PROPOSTAS DE SOLUÇÃO

O pensamento de Edmund Husserl parece-me um primeiro passo na retomada deste caminho. Face à contraposição entre a especulação metafísica e o raciocínio positivista, Husserl apud Dartigues (1973) propôs uma filosofia nova, que unisse:os dados da experiência o pensamento em sua totalidade + racional = FENOMENOLOGIA (FENÔMENO) (LOGOS)

Um retorno à fenomenologia parece necessário. “É, como dissemos, um postulado da fenomenologia que o fenômeno seja lastrado do pensamento, que seja logos ao mesmo tempo que fenômeno” (Dartigues, 1973, p. 21).

Como se percebe, não basta ficar com o fenômeno como ele nos aparece. É necessário às psicoterapias humanistas um pensar sobre, a reflexão acerca da experiência vivida, para que se dê a compreensão dos fenômenos característicos da psicoterapia.

Um outro passo pode ser representado pela contribuição valiosa de Maurice Merleau-Ponty. De acordo com Rezende (in: Forghieri [org.], 1984), o referido autor propõe alguns critérios concernentes a uma psicologia de inspiração fenomenológica: primeiramente, a psicologia deve ser uma ciência humana, ou seja, partir do próprio homem para compreendê-lo e a seus caminhos. Esta psicologia deve ser estrutural, isto é, deve investigar as diversas experiências humanas, integrando-as em seus vários níveis, formas e mundos. Outro aspecto é seu caráter dialético, reconhecendo a pluridimensionalidade no interior da existência, por oposição ao psicologismo. Um outro critério referente à psicologia fenomenológica é que ela deve ser simbólica, já que o homem é polissêmico, encarnando os seus vários significados. Finalmente, esta psicologia não deve ser apenas existencial, uma teoria sobre o humano, mas um estudo do seu existir concreto.

Retomando Buber, proponho uma melhor compreensão da dialética das atitudes Eu-Tu e Eu-Isso no campo das psicoterapias humanistas. Vale lembrar que o encontro existencial se dá através de dois movimentos (Zuben in: Forghieri [org.], 1984):

- distanciamento: onde o homem (psicoterapeuta) coloca-se frente a frente ao outro (cliente), reconhecendo sua alteridade (diferença), independente de si mesmo;

- relação: quando acontece a presentificação do outro enquanto pessoa.

Em outros termos, já é o momento das psicoterapias humanistas reconhecerem a necessidade de teorização acerca da relação psicoterápica, para que a própria relação e o próprio psicoterapeuta possam estar assentados em bases sólidas. Acredito que só assim as psicoterapias humanistas terão um verdadeiro reconhecimento enquanto abordagens científicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De tudo o que foi dito, quero destacar a necessidade premente, para aqueles que se dedicam às psicoterapias humanistas, de uma considerável dedicação ao estudo não só da filosofia referente à psicoterapia, da fenomenologia, do existencialismo e de questões relativas a abordagens específicas, mas de uma reflexão sobre os relacionamentos psicoterápicos específicos nos quais nos envolvemos. É preciso retomar as bases filosóficas que fundamentam a nossa prática psicoterápica, para que nos tornemos verdadeiramente dotados de uma responsabilidade no que se refere a nossos clientes, a nós mesmos, à relação psicoterápica e ao nosso instrumento de trabalho, a psicoterapia.

Encerrando, um alerta. Ao propor uma clara retomada da teorizacão ao nível das psicoterapias humanistas, isto não significa um abandono ou um menosprezo à atitude Eu-Tu, ao encontro e à inter-subjetividade. Omitir este pólo significaria deixarmos de nos denominar psicoterapeutas humanistas, ou seja, não mais reconhecer, como afirma Forghieri ([org.], 1984), que, “em síntese, o psicoterapeuta atua numa alternância entre o conhecimento objetivo e a intuição categorial, entre o Eu-Isso e o Eu-Tu, entre o passado e a presentificação, entre o raciocinar e o existir como totalidade, entre o agir sobre o cliente e o ser-com ele” (p. 30).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGERAMI, V.A. Psicoterapia Existencial: Noções Básicas. São Paulo: Traço, 1985.

BUBER, M. Eu e Tu. São Paulo: Cortez e Moraes, 1977.

_____. Do Diálogo e do Dialógico. São Paulo: Perspectiva, 1982.

DARTIGUES, A. O que É a Fenomenologia. Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca, 1973.

DRAWIN, C. R. Ética e Psicologia: Por uma Demarcação Filosófica. Psicologia, Ciência e Profissão, 5 (2), p. 14-17, 1985.

FORGHIERI, Y. C. (org.) Fenomenologia e Psicologia. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1984.

PERLS, F. S. Gestalt Terapia Explicada. São Paulo: Summus, 1977.

REZENDE, A. M. de. Fenomenologia e Dialética in: FORGHIERI, Y. C. (org.) Fenomenologia e Psicologia. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1984, p. 35-48.

ZUBEN, N. A. Diálogo e Existência no Pensamento de Buber in: FORGHIERI, Y. C. (org.) Fenomenologia e Psicologia. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1984, p. 71-85.

Tornar-se pessoa, hoje!

Emanuelle Coelho Silva

*Texto escrito em fevereiro de 2006.

Vivemos num mundo onde a máxima é aquela expressa nos outdoors, nas grandes propagandas veiculadas pela televisão e mesmo pela internet: “seja magro”, “seja forte”, “lute pelos seus ideais”, “faça inglês”, “seja o homem do século XXI” seja a qualquer custo! [Mais...]

Mas o que nos custa este SER contemporâneo, este novo ser? Esses slogans que nos remetemos e nos intimamos a seguir, não são “obrigatoriedades” para homem atual, mas já vêem de outras épocas humanas, onde outros modelos eram requeridos, mas a máxima era a mesma SEJA, mas seja aquele que eu lhe digo ser, aquele que atende o meu ser. Talvez possamos até nos remeter a Nietzsche, que em seu célebre trabalho “Assim falou Zaratustra”, já nos dizia tão bem sobre esse “super-homem” a que estamos ligados.

Mas o que nos torna seres humanos realmente? O que nos torna pessoa hoje? Como? O que? Quando? Quanto? A que custo?

Tornar-se pessoa não é tarefa simples, não é apenas abdicar das ofertas hi-tech do século XXI, nem tão pouco fingir que elas não existem. Tornar-se pessoa passa pelo íntimo do ser, é preciso mergulhar em si mesmo, verificar e presenciar o caos do EU para depois lançar-se fora e unir-se ao que foi quebrado. Novamente, pensando nas palavras de Nietzsche pra ilustrar, “É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante”.

Nesta tentativa de tornar-se pessoa, por vezes nos perdemos em rótulos, estigmas e exigências de uma sociedade marcada pela estética e pela aparência. A essência é perdida e por vezes nos vemos tão perdidos quanto. Nessa longa caminhada, Nietzsche, em “Assim Falou Zaratustra” retrata o sofrimento, o caos e a luta interna (e até mesmo externa) que desbravamos para alcançar a nossa própria verdade, nossa essência, o EU enfim. É preciso ressaltar que a verdade aqui, é a verdade interna, é a verdade de cada um, é o eu-pessoa.

O que é a existência senão a luta por descobrir o que somos e para onde iremos, em nossa longa jornada? De que certezas têm o homem senão de seu próprio fim? Que mudanças este homem pode procurar, ou mesmo se permitir para encontrar essa pessoa que está dentro dela, pedindo para sair?

Ser humano é demasiado complexo e por vezes penoso. Mas é sempre a partir dessas provações (e até provocações), que as verdades, individuais são transmutadas, mudadas e moldadas, levando a plenitude do EU, a plenitude do ser e a volta do tornar-se pessoa. Conhecer-se, compreender-se, aceitar-se e novamente conhecer-se é o que realmente nos torna pessoa.

Esse caminho que é percorrido em busca de tornar-se realmente pessoa, é por vezes dolorido, uma vez, que nos vemos frente à verdades que parecem insuportáveis, mas são esses momentos em que a real pessoa torna a vir, deixa os rótulos, as exigências, os slogans e é apenas SER. Um músico americano, Jim Morrisson, soube bem retratar essa angústia da existência e essa procura por si mesmo, a briga com o tempo, com a imagem, dizendo em trecho de sua poesia:

(…) Desista de seus votos, desista de seus votos

Salve a nossa cidade, salve a nossa cidade

Agora mesmo

(…) O futuro é incerto e o fim está sempre perto. (…)

Não é possível encontrar-se sem perder-se, e esse processo é doloroso, mas engrandecedor, revelador. É a descoberta da tomada de consciência livre de ser humano. É o momento de encontro com si mesmo.

“Uma pessoa que está mais aberta a todos os elementos de sua experiência orgânica; uma pessoa que está desenvolvendo uma confiança em seu próprio organismo como instrumento de vida sensível; uma pessoa que aceita o foco da avaliação como residindo dentro de si mesmo; uma pessoa que está aprendendo a viver em sua vida como um participante em um processo fluido, continuo, em que está constantemente descobrindo novos aspectos de si mesmo no fluxo de sua experiência. Esses são alguns dos elementos que e parecem estar envolvidos em tornar-se pessoa.” (Carl Rogers, 1995: 140)

Bibliografia consultada

BOAINAIM, Elias. Tornar-se Transpessoal: Transcendência e Espiritualidade na obra de Carl Rogers. Summus Editorial, 1998. p. 23-41: A psicologia Humanista.

GUSMAO, Sonia Maria Lima de. A natureza humana segundo Freud e Rogers. João Pessoa: 1196.

NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Tradução Alex Marins. Editora São Paulo: Martin Claret, 2005.

ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa. Tradução Manuel Jose do Carmo Ferreira e Alvamar Lamparelli. São Paulo: Martins Fontes, 1995

Terapia Ocupacional: Uma viagem aos caminhos da saúde mental

*Patrícia Moreira Bastos

*Texto escrito em 2003.

Acredito, sob qualquer circunstancia, que o futuro sempre será o resultado da relação entre o passado e o presente, e de como esta relação pode ser vivenciada em termos de desenvolvimento, maturação e produção.
[Mais...]
A partir desta perspectiva, foi possível, reunir tantos outros saberes, que percorreram caminhos também para a construção de conhecimentos, que felizmente contribuíram historicamente com o que fomos, somos e possivelmente seremos : nossa consciência enquanto terapeuta ocupacional.

A mente humana grava e executa tudo que lhe é enviado,seja através de palavras, pensamentos ou atos, seus ou de terceiros, sejam positivos ou negativos, basta que você os aceite.

Essa ação sempre acontecerá, independente se traga ou não resultados positivos para você. Isto é um alerta para filtrarmos o que enviamos para nossa mente, pois ela não distingue o real da fantasia, o certo do errado, simplesmente grava e cumpre o que lhe é enviado.

Todos nós sabemos que o homem pensa, progride, e que pode agir livremente; entretanto tende a negar o que é invisível ou o que não seja percebido pelas sensações, não se dando conta que sua existência está na sua consciência, uma consciência intencional. (A intencionalidade da consciência significa que toda consciência não é somente consciência, mas também consciência de alguma coisa, implicando numa relação intrínseca com o objeto.)

A consciência é o sustentáculo das operações vitais do homem, o que faz com que viva, sinta, se locomova, e entenda; uma realidade que subsiste por si só, imaterial, espiritual, e que necessita de uma causa, que explique essencialmente a existência do homem. Tal causa não deve ser algo simplesmente acidental ou superficial, pois o sentimento, a vontade, a inteligência são realidades profundas e que caracterizam o ser humano como uma criatura peculiar, especial.

Pensar em Terapia Ocupacional é antes de tudo definir nossa visão de homem, enquanto existência, o que representa uma tarefa que exige conhecimento; e quanto mais os homens conhecem o homem, mais temerária se torna a tentativa de definição.

É em razão disso que Gabriel Marcel se refere ao homem como ?mistério?; e Sartre, que ?o homem não é o que é, pois ele é o que não é?, o homem está sendo; é no que ele é capaz de ser e não meramente no que ele é.

O homem é um ser pensante, co-criador, e transformador de sua realidade. O auto conhecimento é possível à partir da convivência com o outro, pois viver é radicalmente conviver. Viver, é ser para-o-outro e com-o-outro.

O homem comporta-se à partir da racionalidade, o que lhe permite a condição de auto-determinação, enfim, de ser livre. Entretanto, essa liberdade está condicionada a um processo de maturação, no qual sua manifestação é exercida gradativamente, conforme o desenvolvimento da razão.

A liberdade, aquela que captamos em nós, é a consciência da ação exercida por uma idéia, a saber, a idéia do máximo de independência que sob a dupla relação da causalidade e da finalidade, pode atingir o eu que concebe o universal. A liberdade é a imunidade de vínculos ou marcas; podendo ser física quando dirigida aos movimentos e deslocamentos, moral quando envolve as questões legais,e, psicológica ou pessoal, também chamada de livre-arbítrio, ao permitir tomar decisões ou escolhas conforme sua vontade, inteligência e intencionalidade.

Pensando, o homem faz, realiza, transforma e busca um rompimento com aquilo que traz em si, abrindo-se para a transcendência. O pensamento é condicionado pela ação, a vida não consiste apenas em pensar logicamente, mas também em agir.

KANT reconheceu que o homem pode utilizar seu intelecto ? sua razão, não apenas como receptor de impressões mas como criador de idéias ? a faculdade de pensar.

Quando o homem desperta para o conhecimento, passa a construir uma trilha infinita, onde se volta para sua interioridade para desvendar-se, e para exterioridade para relacionar-se com a realidade circundante, integrando-se nela e na realidade de seu ser. Então, percebe que os horizontes de sua liberdade dependem dos horizontes do seu conhecimento. A garantia do conhecer está na intencionalidade da busca da verdade. A vida humana é essencialmente ação.

O ato de refletir e o valor do conhecimento são legitimados através da atitude.Toda ação é efeito, então, estando o ato de refletir relacionado com o ato de pensar, é a atitude pensada na verdade que qualifica o conhecimento, e não a simples e conseqüente ação motora.

O ser humano desenvolve sua vida em plenitude através da ação. O conhecimento só tem razão de ser na medida em que estimular a atividade, a ação na linha da utilidade.

Em a vida é atividade, princípio que rege tanto a vida corporal como a mental, dado que o homem nunca permanece sem fazer nada; senão faz algo útil, faz algo inútil? , segundo Francisco (1990), é possível entender que o homem é dotado de uma natureza ocupacional, o que caracterizou-o como detentor ativo de potencial de construção e transformação de sua realidade, portanto, qualquer mudança ou situação que venha trazer algum prejuízo ou disfunção ao homem, pode ser considerado como conseqüência da ausência ou comprometimento de atividade ou ocupação, através das atividades relacionadas ao trabalho, de vida diária, de vida prática e de lazer.

É possível então perceber que quando o homem encontra-se numa situação de harmonia e equilíbrio de sua realidade, fazendo uso ativo de seu tempo-espaço, ele responde a uma manifestação de qualidade de vida e saúde. A atividade humana, é a atividade da consciência, resultado da relação entre a reflexão e a ação, mediados pela intencionalidade, vontade, e liberdade.

Para DE CARLO (2001) ? as atividades humanas são constituídas por um conjunto de ações que apresentam qualidades, demandam capacidades, materialidades e estabelecem mecanismos internos para sua realização.(…) A linguagem da ação é um dos modos de conhecer a si mesmo, de conhecer o outro, (…) darão forma e estrutura ao fazer dos sujeitos,(…) estabelecendo um sistema de relações que envolve a construção da qualidade de vida cotidiana.?

E a qualidade de vida cotidiana, nada mais é que a percepção subjetiva do sujeito sobre seu bem estar e suas condições de vida. O cotidiano não é rotina, nem a mera repetição automata de movimentos ou ações que levem um fazer por fazer. O cotidiano, segundo FRANCISCO (1988) é o espaço próprio onde o sujeito busca praticar sua atividade criativa e transformadora. É o espaço social que o sujeito ocupa, vive.

Ao longo dos meus 25 anos de atuação profissional, venho construindo o meu fazer através de diversas concepções que têm fortalecido não só às novas definições relativas a ?complexidade do sujeito? (CARVALHO,2003), como permitido a delineação de uma nova forma de ver o homem, e conseqüentemente às novas formas de intervenção em Terapia Ocupacional, sem perder de vista o contexto sócio-histórico e cultural.

Entretanto, embora se possa estar vivenciando uma diversidade de propostas e diferentes realidades socioculturais, as igualdades e diferenças também permeiam a intervenção da Terapia Ocupacional, na medida em que se convive com um confronto entre o momento histórico de extremo avanço tecnológico, com acesso limitado para alguns personagens da humanidade, e a luta pela aquisição de recursos básicos de sobrevivência com dignidade.

A Terapia Ocupacional, manifestada pelo terapeuta ocupacional, precisa expressar esta realidade – é a atividade humana e a consciência de saber fazer, que justificam sua ação, para que possa intervir estabelecendo condições de relações sociais mais justas, assegurando através de suas ações a qualidade de vida para o homem.

Ao buscar sempre uma realidade, posiciono-me em direção do futuro; e, algumas questões importantes me vêem à mente:

Quando nos referimos a saúde mental, para qual sujeito estamos dirigidos?

Ao nos relacionarmos com o outro, o que temos aprendido, ou quem ensina a quem?

Quais os limites estabelecemos na relação terapeuta e paciente, no contexto da Saúde Mental?

Intervir no contexto da Saúde Mental representa alguma diferença para outros contextos?

(*) terapeuta ocupacional com especialização em Saúde Pública reconhecida pelo COFFITO;terapeuta ocupacional do Ambulatório de Saúde Mental do Hospital Juliano Moreira, desde 1985,Salvador-Ba.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DE CARLO,Marysia M.R.Prado. & BARTALOTTI,Celina C. Terapia Ocupacional no

Brasil:fundamentos e perspectivas,Plexus,São Paulo,2001.

FRANCISCO,Berenice Rosa. Terapia Ocupacional. Papirus,Campinas,1988

GIRARDI,Leopoldo Justino. Filosofia.Acadêmica,Porto Alegre,1988.

Projeto de educação popular. Uma contribuição da Psicologia Clínica Humanista.

Sônia Maria Lima de Gusmão

*Texto apresentado no IV Fórum Internacional da Abordagem Centrada na Pessoa no Rio de Janeiro- 1989.

Neste texto procuro associar dois campos de minha atuação profissional- meu trabalho como facilitadora em grupos vivenciais e minha prática como educadora- ambos dentro da abordagem humanista centrada na pessoa, e proponho um trabalho junto aos coordenadores de debates, no sentido de favorecer neles atitudes facilitadoras, indispensáveis à uma prática efetiva de educação popular. [Mais...]

Existe algo de terapêutico no processo educativo, do mesmo modo que existe algo de educativo no processo psicoterápico. Assim, tenho observado o crescimento de meus alunos como pessoas e a aprendizagem constante nos meus clientes. Neste contexto, a verdadeira educação e a psicoterapia se confundem: ambas conduzem à mudança.

Muitas vezes tenho me perguntado sobre o que conduziria pessoas humilhadas, sofridas e empobrecidas, por uma situação social injusta e opressora, a não buscarem mudança, a não lutarem por uma vida mais digna e humana. Minhas observações apontam em duas direções – ambas têm como palco a família e como pano de fundo a sociedade opressora, em que estamos inseridos. A direção da superproteção, cuja mensagem oculta bem poderia ser: “você não tem condições de enfrentar o mundo, você é frágil, precisa que eu cuide de você”, o que equivale a um atestado de incompetência. Ou a do autoritarismo, presente nas figuras parentais. Ambas cerceiam e limitam a liberdade de ser.

Parece que a maior das opressões foi aquela que internalizamos, quando criança. Foi o “não”, “engolido a seco”, diante da postura autoritária de nossos pais, que nos fizeram pequenos, além do físico, diminuídos, humilhados e sem poder. O “não”, preso na garganta, nos impediu, mais tarde, de nos opormos às situações maiores de opressão. Nos deixou ser sugados e espezinhados por uma estrutura social injusta e desumana. Nos despreparou para o enfrentamento do mundo adverso, que nos esperava. Nos deixou sem poder.

O papel do psicólogo, que desenvolve seu trabalho na comunidade é, entre outros, o de liberar esse grito, esse “não” contido, que não transpôs a barreira da garganta, submetendo seu detentor a “sins lacaios”, que obstrui, dessa forma, seu processo de crescimento e de conscientização.

Tenho observado que a participação em Vivências Comunitárias Alternativas tem propiciado às pessoas a expressão desse “não” aprisionado, com uma carga energética muito grande, o que faz com que elas adquiram melhores condições de se opor ao ambiente, lutando contra a opressão.

Considero, a partir dessas experiências grupais e mesmo da terapia individual, que só vencendo a barreira internalizada, é que poderemos vencer as outras barreiras que o social nos impõe. Somente pelo enfrentamento, pela coragem de se opor, de dizer “não” e de correr riscos, poderá realmente ser mudada a situação de opressão. E essa coragem, acredito, poderá ser atingida a partir de um contexto facilitador, onde o indivíduo experiencie o contrário da vivência opressora, liberando seus medos, sua dor, sua revolta e se potencializando para o enfrentamento. Contexto, esse, fortemente marcado por atitudes como autenticidade, empatia e aceitação.

WORKSHOPS: UMA DEMONSTRAÇÃO E UMA OPÇÃO DE FORMAS MAIS DIGNAS E AUTÊNTICAS DO VIVER SOCIAL

Nestas duas últimas décadas, a Abordagem Centrada na Pessoa, através de Carl Rogers e de sua equipe, se dedicou à construção de comunidades (provisórias) formadas por grupos de 50 a 200 pessoas e, eventualmente, de 600 a 800 pessoas. Esses workshops, como são chamadas essas comunidades, não têm fins lucrativos nem estão ligadas às instituições governamentais ou quaisquer outras instituições, garantindo-lhes, assim, a autonomia necessária a um processo decisório grupal, livre de interferências alheias ao próprio grupo. A expressão do “ser” é a tônica dominante desses encontros e o poder dos facilitadores é compartilhado com os demais membros do grupo, de modo a que todos possam vivenciar o seu próprio poder pessoal. A autenticidade está presente em cada momento da vivência, na medida das possibilidades de cada um numa permanente expressão do “ser”. E apesar da persuasão, interpretação ou manipulação não serem usadas pelos facilitadores, não se observa, da parte deles, nenhuma atitude de laissez-faire, Suas participações são ativas, inclusive na expressão de sentimentos.

Rogers enfatiza que, “o sentimento de comunhão não surge do movimento coletivo, nem da submissão às ordens de algum grupo. Pelo contrário, cada indivíduo tende a usar a oportunidade para tornar-se tudo aquilo que pode tornar-se. Vivencia a individuação e a diversidade – a singularidade de ser um “eu”. É justamente essa característica de acentuada individuação da consciência que parece elevar o nível do grupo a uma unidade de consciência. Descobrimos que cada pessoa não só percebe o workshop como um lugar onde pode satisfazer necessidades pessoais, mas também configura ativamente uma atuação que permite esta satisfação. Um indivíduo descobre novas maneiras de encarar um momento difícil no casamento ou na carreira. Outro obtém insights que permitem crescimento interno. Outro aprende novas formas de construir uma comunidade. Outro adquire mais habilidades nas relações interpessoais. Outros descobrem novos meios de renovação espiritual, artística e estética. Muitos voltam-se para uma ação mais lúcida e eficiente que vise a mudança social. Outros experienciam combinações dessas aprendizagens” (2)

Um outro aspecto destacado nessas vivências diz respeito aos valores. Aqueles que nos são impostos de fora, tendem a ser questionados. O indivíduo toma consciência do peso desses valores sobre sua vida e muda, guiando-se, agora, pelos seus próprios valores organísmicos. Percebe seu próprio valor e o expressa com liberdade.

Rogers observa, ainda, que (…) “na vida comum, o curso de uma ação é ordenado pela autoridade, e, a menos que nos ultraje, tendemos a obedecer à ordem, a seguir a regra. Embora as pessoas possam reclamar, parece que, em geral, todos aceitam as regras. Todas as reações complexas ficam encobertas.

Mas na comunidade de um workshop, onde as pessoas percebem seu próprio valor e sentem-se livres para se expressarem, a complexidade torna-se evidente.” (3)

A essência positiva das pessoas é outro ponto visível nessas comunidades. Observa-se que o ser humano, longe de ser a besta-fera tão temida, a partir de um contexto psicológico adequado, é realmente digno de confiança: suas potencialidades se atualizam de maneira surpreendente, se destacando seus aspectos construtivos e sociabilizantes, ele se torna “criativo, automotivado e poderoso.”

A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO VERDADEIRA NO TRABALHO DE EDUCAÇÃO POPULAR

Para Paulo Freire, uma das maiores dificuldades da Educação Popular consiste na preparação dos quadros de coordenadores. Esta dificuldade é colocada não do ponto de vista técnico, pois este é facilmente assimilável pelos futuros agentes, mas na criação de atitudes que venham possibilitar ao coordenador uma relação dialogal profunda e horizontal – do tipo EU-TU – onde os dois envolvidos são sujeitos nesta relação.

É evidente que, para que aconteça uma relação dialógica, certas condições devem estar presentes: o respeito e a crença no ser humano, além do não exercício do poder sobre o outro. O poder deve ser compartilhado, num clima de autenticidade, onde um aprende com o outro.

Outro ponto importante diz respeito a necessidade do agente participar de uma supervisão, igualmente dialogal, evitando, assim, a tentação da manipulação.

“Não há outro caminho senão o da prática de uma pedagogia humanizadora, em que a liderança revolucionária, em lugar de se sobrepor aos oprimidos e continuar mantendo-os como quase “coisas”, com eles estabelece uma relação dialógica permanente .”
(. . . ) “Uma liderança revolucionária, que não seja dialógica com as massas, ou mantém a “sombra” do dominador “dentro” de si e não é revolucionária ou está redondamente equivocada e, presa de uma sectarização indiscutivelmente mórbida, também não é revolucionária.” (4)

Freire enfatiza, ainda, a necessidade do coordenador não se proteger em falsas certezas, onde a segurança advém do aprisionamento da realidade, arriscando-se a conhecer a realidade para melhor transformá-la. O que só será atingido pelo enfrentamento, pela capacidade de saber ouvir e de manter um encontro real com o povo .

A propósito da criação de atitudes necessárias para se atingir níveis superiores de atuação política, Júlio Barreiro, coloca:

“A Educação Popular aproveita e deve aproveitar todas as oportunidades para criar atitudes e comportamentos capazes de conduzir a níveis superiores de atuação política a organização do povo em torno de seus interesses, imediatos ou não, mas que sirvam, ao mesmo tempo – sejam uns ou outros – para provocar o seu sentido crítico, autônomo, criativo”. (5)

Quando tentamos estabelecer um paralelo entre a Educação Popular e a Abordagem Centrada na Pessoa, observamos que seus objetivos são semelhantes em vários aspectos. Ambas enfatizam a criação de atitudes que conduzam a um viver mais autônomo e criativo; acreditam no ser humano e centram-se nele; acreditam no peso do social sobre o comportamento dos homens e buscam formas de vidas mais dignas e justas, através de um processo de conscientização e de libertação do ser.

Raquel Rosenberg, educadora e psicóloga centrada na pessoa, referindo-se ao papel social do terapeuta, afirma:

Observo que, à medida que se permite às pessoas tomarem maior consciência de seus verdadeiros desejos e sentimentos, inevitavelmente elas se sentem mais poderosas em relação ao seu destino e mais diretamente responsáveis por si mesmas. Tal mudança, por sua vez, constitui um terreno fértil para o desencadeamento de uma atuação social mais claramente propositada e possivelmente mais efetiva. (6)

Parece-me que há um perfeito encontro entre a Educação Popular e a Abordagem Centrada na Pessoa.

O trabalho em educação, desenvolvido por Paulo Freire, enfatiza a necessidade de uma educação voltada para a decisão e para a responsabilidade social e política; uma educação que possibilite ao homem oprimido a discussão corajosa de sua problemática; uma educação que o mantenha comprometido com a praxe de sua libertação, com a conquista de sua humanização usurpada; uma educação que não traz soluções prontas, mas que possibilita um contexto de reflexão-ação, onde essas soluções são geradas e decididas pela própria comunidade.

Rogers refere-se a respeito da pedagogia de Freire, que ele considera essencialmente centrada na pessoa, do seguinte modo:

Os membros ao se revelarem uns aos outros, começam a acreditar em si mesmos como pessoas, assim como nos outros membros do grupo. Mudam seus objetivos. Ao invés de simplesmente aspirarem tornar-se opressores, imaginam um novo tipo de sistema social, mais humano. Finalmente começam a avançar no sentido de mudar as terríveis condições as quais vivem. (7)

Algo interessante de ser notado é o mecanismo utilizado pelas classes dominantes, que, ao se sentirem ameaçadas, acentuam a repressão. No caso de Paulo Freire, este se viu perseguido e obrigado a se exilar após o golpe militar de 1964.

Compartilhar o poder parece algo profundamente ameaçador para quem o detém, à custa da desumanização dos outros e da sua própria. Da sua por opção e da dos outros por imposição.

CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA CLÍNICA HUMANISTA À EDUCAÇÃO POPULAR

O conhecimento humano tem se ampliado e se diversificado, de tal modo que parece fora de dúvidas a necessidade de trabalhos multidisciplinares. Na tentativa de se acumular cada vez mais conhecimentos, a realidade tem se transformado em algo que, de tão multifacetado, se torna inacessível, fazendo-se necessário uma união de esforços e de conhecimentos especializados, para que a possamos atingir, e, desse modo, contribuirmos com a educação popular no sentido da transformação social.

Acredito que os efeitos da Abordagem Centrada na Pessoa, quando utilizada por um facilitador (coordenador de debates) que possua as atitudes enfatizadas por Rogers – autenticidade, aceitação e compreensão empática – aliadas a um profundo respeito e crença no potencial humano, têm sido de fundamental importância no processo de libertação dos indivíduos, independente das categorias profissionais daqueles que pretendem facilitar no outro esse processo. Suas técnicas constituem um importante instrumento de conscientização e de transformações social e individual.

Sem cair na ingenuidade de reduzir a conquista da liberdade a essa atuação, considero que situações de opressão poderão ser superadas com a ajuda de tal abordagem, haja vista que a mesma potencializa os membros da comunidade, conduzindo-os ao auto-conhecimento, a auto-confiança e ao despertar da sua força, e, conseqüentemente, à ação.

Refletindo sobre o trabalho que eu poderia desenvolver junto as camadas populares, inicialmente senti-me inclinada a aprofundar o trabalho realizado, por mim, no Hospital Universitário, pois, talvez, em nenhum outro contexto a situação opressor-oprimido se mostre com tanta crueza. O poder é de tal modo exercido no ambiente hospitalar, frente às criaturas enfermas, que simplesmente as anulam como pessoas. “O paciente 308″, ” o perturbador da enfermaria 03″ são designações comuns aos pacientes internos. “Estou à procura de um fígado cirrótico para dar uma aula”, diz o médico-professor insensível ao fato de que tal fígado se encontra localizado numa pessoa. O professor entra na enfermaria com seus discípulos e todos se sentem no direito de manipularem o órgão enfermo, mais uma vez, insensíveis a dor e ao pudor da pessoa, que nesse momento é percebida como objeto. Pessoa que, na sua percepção “menosválida” de si mesma geralmente da zona rural não ousa sequer perguntar-lhes os nomes ou pedir para que sejam “traduzidas em miúdos” aquelas palavras que estão sendo ditas a seu respeito, e que, ditas daquela maneira, só fazem aumentar a sua angústia diante da vida e da morte. Pessoa, que as injustiças sociais se fizeram sentir com mais violência, roubando-lhe, também, a saúde.

Todavia, à medida que amadurecia nessa reflexão, cheguei à conclusão que, talvez eu pudesse contribuir de uma maneira mais ampla e efetiva se eu aliasse a minha experiência como facilitadora de grupos vivenciais – terapêuticos – e a minha experiência como educadora, atuando junto aos coordenadores de debates, no sentido de “treiná-los” nas atitudes facilitadoras, necessárias ao espaço de reflexão-ação, e contribuindo para reduzir as ansiedades e desgastes decorrentes, muitas vezes, de tal prática.

Baseio-me no seguinte:

1. apesar dos relatos bem sucedidos de educação popular, cuja literatura está cheia de exemplos, sabemos de muitos casos, não publicados, de experiências mal sucedidas e mesmo de desistências de coordenadores que se sentem decepcionados e sem condições de prosseguirem na sua tarefa;
2. muitas vezes, essa decepção é decorrente do despreparo do coordenador para lidar com o opressor internalizado que se exterioriza em algum membro da comunidade. Recentemente, em conversa com uma agente comunitária, ela colocava: – “É profundamente desestimulante, depois de tanto batalhar, percebermos que um dos membros porque conseguiu algo a mais que seus companheiros de luta, vira às costas para o grupo e passa a explorá-lo;”
3. outras vezes, decorre do fato de que o seu próprio opressor internalizado vem à tona e ele assume frente à comunidade, uma postura de controle, camuflada – quase sempre de paternalismo – o que só dificulta a comunicação real e autêntica;
4. a falta de uma maior clareza sobre si mesmo, sobre seu processo interior, pode conduzir o coordenador a uma postura inadequada diante da comunidade que se pretende facilitar a conscientização, haja vista que o mesmo pode projetar na comunidade aspectos seus não resolvidos ou clareados ou, ainda, manipulá-la;
5. não basta o saber teórico ou a boa intenção, é necessário que o coordenador possua determinadas condições: um respeito real e profundo pelo ser humano; uma capacidade para perceber, na comunicação, a intencionalidade ou o sentimento contidos e, muitas vezes, encobertos nas palavras do participante de grupo, demonstrada através de uma compreensão empática; que seja transparente na sua forma de ser, não assumindo falsas posturas diante do grupo; e que tenha, também, uma certa facilidade para se comunicar com a comunidade, fazendo com que os aspectos mencionados sejam percebidos;
6. a ausência dessas condições ou de alguma delas tem conduzido excelentes teóricos, com uma boa consciência crítica e bem posicionados politicamente, à práticas improdutivas, no campo da educação popular.

Concluindo, a minha proposta consiste em desenvolver um trabalho dentro dos princípios da abordagem humanista centrada na pessoa, junto aos coordenadores de debates, onde busco associar dois campos de atuação profissional – o meu trabalho como psicóloga, facilitadora de grupos vivenciais, e o meu trabalho como educadora, visando :

1. a criação de um espaço, onde os coordenadores possam refletir as suas práticas e liberar as tensões decorrentes das mesmas;
2. possam ampliar a sua auto-consciência e, por extensão, a sua compreensão do mundo, reduzindo, assim, possíveis projeções de sua parte nas comunidades que coordenam;
3. possam desenvolver atitudes que facilitarão o seu desempenho como coordenador de grupo, quais sejam :

a) compreensão empática, atitude que consiste em saber ouvir em profundidade, ou seja apreender a comunicação na sua totalidade, nos seus aspectos intencionais e emocionais, portanto, nos aspectos que transcendem o verbal;
b) autenticidade, cuja consistência reside no ser transparente para o outro, no caso para a comunidade, não assumindo falsas posturas;
c) aceitação positiva incondicional, atitude que diz respeito a aceitação do outro como ele é de fato, sem a imposição de condições, na sua forma de ser ou nos aspectos culturais, entre outros; o que não significa ser conivente com o sistema nem desejar a perpetuação das condições adversas que o transformaram num oprimido.

4. E, a partir dos ítens acima, o diálogo da libertação fluindo de uma maneira mais plena e satisfatória na comunidade, ampliando, assim, as condições que conduzem a uma atuação social mais efetiva.

CONCLUSÃO

Uma andorinha sozinha não faz verão. Ninguém, por si só, transformará o mundo em algo mais justo e digno de ser vivido. Faz-se necessário a união dos que querem a mudança: Psicólogos, médicos, educadores, advogados, assistentes sociais, engenheiros, enfim, todas as categorias profissionais integradas, contribuindo, cada um na sua área de conhecimento, para o bem comum, para o processo de conscientização das camadas populares, no sentido da transformação social.

Cabe à Psicologia Humanista, como não poderia deixar de ser, um papel importante neste momento de transição. Reconquistar a humanização perdida e quase esquecida não parece ser uma tarefa fácil de ser alcançada. A descrença no homem e a violação dos direitos humanos têm sido marcas registradas de nossa época. A consciência, em si mesma, não é suficiente, é necessário o compromisso – o envolvimento – para que se efetive a mudança.

NOTAS FINAIS

1. Texto apresentado no IV Fórum Internacional da Abordagem Centrada na Pessoa – RJ, agosto/1989, publicado no Caderno de Textos do CCHLA-UFPB e , posteriormente, na Revista de Psicologia , Fortaleza, V.6(2):15-24, jul./dez.,1988 ( edição publicada com atraso).
2. ROGERS, 1983, Um Jeito de Ser, p.58 e 59.
3. ROGERS, 1983, Op.cit., p. 62.
4. Conferir FREIRE, 1974 – Educação como Prática da Liberdade p. 115
5. ldem, 1974 – Pedagogia do Oprimido, p. 60.’
6. ldem, idem, p, 147
7. Conferir FREIRE, 1974 – Pedagogia do Oprimido, p. 24.
8. BARREIRO, Júlio, 1980 – Educação Popular e Conscientização, p. 13 e 14.
9. ROGERS & ROSENBERG, 1977 – A Pessoa Como Centro, p. 66.
10.ROGERS, 1986 – Sobre o Poder Pessoal, p. 109.

BIBLIOGRAFIA

BARREIRO, Júlio – Educação Popular e Conscientização. Petrópolis, Vozes, 1980. EVANS, R. l. – Carl Rogers: o homem e suas idéias; São Paulo, Martins Fontes,1979.
FREIRE, Paulo. Educação Como Prática da Liberdade, 4ª. ed., RJ, Ed. Paz e Terra, 1974.
______ Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro, Editora Paz ‚ Terra,1974.
ROGERS, Carl R. – Liberdade de Aprender na Nossa Década, Porto Alegre, Artes Médicas, 1985.
_______ Sobre o Poder Pessoal, 2ª. ed. São Paulo, Martins Fontes,1986.
_______ Um Jeito de Ser, São Paulo, EPU, 1983.

ROGERS, Carl R. & ROSENBERG, Rachel L., A Pessoa Como Centro, São Paulo,EPU, 1977.
ROGERS, Carl et alli – Em Busca de Vida. São Paulo, Summus Editorial, 1983.

Para que serve psicoterapia?

Georges Daniel Janja Bloc Boris

*Publicado no site da Universidade de Fortaleza (www.unifor.br) em 2001.

Como psicólogo, é comum que eu ouça comentários diversos sobre minha atuação profissional. [Mais...] Muitos consideram difícil ou muito pesada a postura de ouvir pessoas com dificuldades, com problemas emocionais sérios ou mesmo que se consideram ou que são socialmente percebidas como loucas. Outros desconsideram a atuação do psicólogo, percebendo-a como o uso de um conjunto de atitudes e de conselhos através de um palavreado ingênuo ou inócuo, pois referente ao senso comum, e que pouco resolve ou modifica as angústias dos usuários dos serviços de psicologia. Creio que estas duas perspectivas dizem respeito ao imaginário que envolve a atuação do psicólogo, que, de um lado, considera-o um semideus ou um mago onipotente, ou, por outro lado, percebe-o como um charlatão que utiliza seu saber para acomodar as ansiedades vividas pela clientela que o procura.

Acredito que a atuação do psicólogo clínico não se reduz nem a um nem a outro dos extremos referidos acima. Sem dúvida, não é uma panacéia para todos os males e nem resolve ou se propõe a resolver todos os problemas. Entretanto, devo afirmar que a psicoterapia – atividade que exerço há quase 20 anos – pode ser um recurso extremamente útil àqueles que buscam se conhecer mais profundamente e/ou que reconhecem sua insatisfação com a forma de estar no mundo. Sem dúvida, os problemas humanos são diversos. Entretanto, a psicoterapia visa a criar um clima receptivo e de confiança que favoreça a livre expressão das emoções, angústias e dificuldades vividas por aqueles que a ela se submetem.

Apesar de “fazer análise” ter se tornado uma prática prototípica da (pós)-modernidade, a psicoterapia tem mais de 100 anos e desenvolveu diversas abordagens, linhas teóricas e práticas diferenciadas. De um modo geral, trata-se de encontros de cerca de 50 minutos, em uma ou mais vezes na semana, em que o psicoterapeuta busca favorecer com que seu cliente manifeste suas questões pessoais íntimas e tudo aquilo que lhe diz respeito ao último pode e deve ser tratado no espaço psicoterápico. As técnicas e os referenciais são muitos, mas, genericamente, buscam que aqueles que se beneficiam da psicoterapia aprendam a lidar melhor com suas questões e possam tomar decisões mais conscientes e consistentes com seus próprios desejos. Comumente, não há um tempo pré-definido para o término do processo psicoterápico, apesar de algumas abordagens de psicoterapia breve determinarem o número de sessões em que se espera alcançar seu objetivo. Em vários referenciais, não há cura, pois se considera que geralmente não há doença a tratar e que a decisão de se submeter ou de encerrar o processo psicoterápico depende em grande parte ou totalmente do cliente. Neste sentido, a psicoterapia não seria nem mesmo um tratamento.

As psicoterapias lidam com as mais variadas questões, envolvendo aspectos práticos e objetivos ou subjetivos e abstratos da vida dos clientes. Algumas privilegiam o uso da palavra; outras, a expressão emocional através do corpo; a aprendizagem de novos comportamentos ou a dramatização de situações significativas da vida da clientela. Em sua formação, os psicoterapeutas se submeteram a seus próprios processos psicoterápicos como clientes e freqüentemente buscam profissionais mais experientes para discutir seus casos clínicos ou pelo menos aqueles em que enfrentam maior dificuldade. Neste caso, a identidade do cliente é preservada e os objetos da supervisão passam a ser o próprio psicoterapeuta e suas dificuldades.

A prática psicoterápica buscou favorecer também porções mais amplas da população, surgindo as práticas grupais. Devido ao maior número de participantes, os grupos geralmente funcionam num período de 2 a 4 horas semanais e requerem um contrato de sigilo não apenas com o psicoterapeuta – como ocorre nos processos individuais – mas com todos os participantes. Busca-se que haja participantes de ambos os sexos e de idades variadas – ou mesmo de classes diferentes – de modo a que o grupo vivencie situações as mais próximas da realidade social. Geralmente, o período de existência dos grupos é acertado previamente com os participantes, podendo variar de grupos de fins de semana até grupos que duram anos. O número de participantes também varia bastante, mas o mais comum é o chamado pequeno grupo, composto de 8 a 12 participantes. Uma qualidade interessante e peculiar – pelo menos potencialmente – aos grupos de psicoterapia é que os vários participantes leigos vão paulatinamente se tornando agentes ou facilitadores terapêuticos cooperativos e o psicoterapeuta vai assumindo cada vez mais apenas a função de coordenador mais experiente, a quem o grupo pode recorrer nos momentos mais difíceis.

Longe de se propor apenas a tratar de pessoas insanas ou perturbadas mentalmente, as psicoterapias podem mesmo funcionar como um recurso às pessoas “normais”, mas que percebem que seu potencial existencial poderia ser mais bem explorado e vivido. Neste sentido, a psicoterapia pode se constituir num instrumento de facilitação da aprendizagem, do reconhecimento pessoal e interpessoal, da conscientização e da realização das potencialidades humanas.

Ousando ser feliz.

Sônia Maria Lima de Gusmão

*Texto escrito em 1990.

INTRODUÇÃO

Neste texto, reflito sobre algumas das possíveis causas sociais e pessoais relativas à situação de descontentamento e de infelicidade vividas pelo ser humano. [Mais...] Considero que a felicidade não é um objetivo em si mesma, sendo decorrente da atualização de potencialidades do indivíduo – do seu viver pleno. Baseio-me na minha experiência, como psicóloga e como-ser-no-mundo, e em autores como Carl Rogers, e Paul Tillich. Concluo que as adversidades são tantas que é necessário ousar para se atingi-la.

Creio que não precisamos ir muito além no passeio de nossas lembranças, ou das nossas histórias, para percebermos que no contexto familiar e social, num sentido mais amplo, o que predominava era o puritanismo hipócrita. Valores como a virgindade e a obediência cega aos pais, à igreja e aos mestres, por exemplo, faziam parte do nosso cotidiano, cerceando a expressão do nosso verdadeiro ser.

Parece evidente que tais valores, aos poucos, foram se transformando. Atualmente nos deparamos com a antítese desses valores. O que antes era contido ou represado no seio dos indivíduos se transmuta na busca, muitas vezes desenfreada, do prazer e da diversão como metas de vida. Os adolescentes, sobretudo, parecem perdidos nessa busca. Observo que a liberação sexual, por exemplo, tal como tem sido experienciada pelos jovens, tem acarretado dificuldades de ordem prática e psicológica, constatadas no nosso dia-a-dia e no consultório psicológico. Quando o esquema antigo já não satisfaz, passa-se um período perdido na busca do novo, até que, finalmente, atingi-se o equilíbrio da síntese.

Alienados do seu próprio ser, muitos desses jovens colocam o prazer como objetivo de suas vidas, o que os afasta ainda mais da felicidade, pois a felicidade não sendo um fim em si mesma, torna inglória essa busca.

O indivíduo sente-se alegre quando ele se realiza naquilo que faz, mesmo que esse fazer acarrete, algumas vezes, em risco à própria vida, como podemos observar nos depoimentos de pessoas que se arriscaram para salvar a vida de outras, às vezes desconhecidas.

Em momentos cruciais, a terapia tem sido buscada como uma tábua de salvação contra o estado de descontentamento e de infelicidade em que se encontra o indivíduo. Todavia, promover o crescimento e o desenvolvimento do potencial humano é um processo demorado, que requer daquele que busca, coragem, investimento pessoal e a vivência consciente da experiência presente.

Viver a experiência presente – aqui e agora – implica lutar contra os condicionamentos sociais que nos impuseram a vida toda. Implica ousadia e abertura para enfrentar os próprios fantasmas, além das adversidades próprias do contexto em que se está inserido.

A ORIGEM DO MEDO DE SER FELIZ

“Vejo os homens se diferenciarem pelas classes sociais e sei que nada as as justifica a não ser pela violência. Sonho ser acessível e desejável para todos uma vida simples e natural de corpo e de espírito”.

Ao refletir sobre a origem do medo de ser feliz, considero importante observarmos que indivíduo e sociedade são faces da mesma moeda: um não existe sem o outro. Por outro lado, o indivíduo está contido na sociedade, assim como a sociedade está contida no indivíduo, através da sua internalização. Falar do indivíduo, portanto, é falar do social e vice-versa.

Na minha percepção, nossa sociedade, tal como está estruturada, tem contribuído de forma decisiva para o estado de alienação e de infelicidade em que se encontra o homem. Alguns fatores parecem se destacar:

1º – Seu aspecto competitivo. Valoriza-se a performance individual, em detrimento do sentido de equipe e de solidariedade que deveriam prevalecer nas relações humanas, o que tem gerado frustrações e ansiedades.

2º – A escalada consumista que a caracteriza. Com a ajuda da propaganda, deforma-se a realidade e invertem-se os valores. Os indivíduos são valorizados pelo que possuem e não pelo que são, fomentando-se, assim, desejos insensatos e não naturais, que têm colaborado para a manutenção da insatisfação.

3º – Seu caráter repressor e hipócrita, dificultando, assim, a expressão do verdadeiro ser das pessoas, transformando-as em seres alienados de si mesmo e do mundo, e como tal, infelizes, não-realizados e medrosos.

4º – O jogo de poder presente nas relações, fazendo de alguns os opressores e de outros os oprimidos (Noutras circunstâncias, o oprimido, não conscientizado, pode vir a se transformar no opressor, cerceando igualmente possibilidades de expansão de outro ou de outros, numa ação própria daqueles que usam o poder para subjugar seres humanos).

É evidente que, numa sociedade competitiva e opressora, como é a nossa, o indivíduo tende a se tornar um ser vazio e infeliz, pois, quanto mais ele se enquadra, em busca de reconhecimento social, mais anula a expressão do seu verdadeiro ser.

Ao se identificar com seus títulos, seus cargos ou suas propriedades, o homem “civilizado”, se distancia cada vez mais da sua realidade: daquilo que dá sentido à sua vida e que faz dele um ser pleno. É como se ele corrompesse o que de mais essencial existe em si mesmo na busca de um certo status que, acredita, lhe “garantirá” ou lhe dará a condição para ser reconhecido e valorizado socialmente.

Seu organismo 3 , em contrapartida, cobra caro o fato dele ter negado seus próprios valores humanos. Assim, ele vai se tornando uma pessoa ansiosa e infeliz, sem objetivos pessoais que dignifiquem a sua vida. Vai se tornando amargo e negativista. Seu potencial se perde, sem expressão, no emaranhado de uma sociedade opressora que tem lhe proporcionado poucas possibilidades de se realizar, de ser feliz.

O homem, em sua grande maioria, já não consegue mais se envolver e sentir prazer com aquilo que produz porque o seu trabalho e a sua produção estão dissociados da sua realidade existencial – daquilo que enriquece e dá significado a sua vida. Isto sem contar com a exploração a que muitas vezes é submetido ou a falta de oportunidade para exercer sua capacidade produtiva, em decorrência da recessão.

Sandor Rado 4 afirma que o prazer “é laço que une”. Realmente, somente uma pessoa ligada a si, à realidade, aos outros e ao trabalho, de uma maneira íntegra, não dividida, poderá sentir o prazer, a felicidade.

A situação chegou a um nível tal que os indivíduos parecem não saber mais se divertir. O entretenimento é buscado como uma forma de fugir dos seus problemas. Daí a inclusão do álcool e das drogas cada vez mais presentes nas diversões dos adultos. É preciso ficar “alto” ou “viajar”para fugir do tédio e do vazio experimentados.

Na opinião de Schutz 5, se a sociedade é repressiva, ele ( o homem ) não pode mais se desenvolver inteiramente. Se as instituições sociais são destrutivas, ele não pode crescer. Se a vida em família é constrangedora, o trabalho desumano, as leis humilhantes, as normas intoleráveis, se o fanatismo e o preconceito são as bases da atuação humana, então nosso homem plenamente realizado está em situação muito difícil. O prazer ao nível da organização surge quando uma sociedade e cultura são sustentadas e incrementadas para a auto-realização.(…) O prazer surge quando alguém realiza seu potencial para o sentimento, para a liberdade e abertura internas, para a expressão total de si mesmo, para poder fazer tudo que é capaz, e para estabelecer relações satisfatórias com os outros e com a sociedade.

Para Paul Tillich, “a coragem da sabedoria” é conflitada por medos e desejos que a sociedade coloca como máscaras assustadoras em todos os homens e coisas. Tirando-as, suas verdadeiras fisionomias são reveladas, desaparecendo o medo que elas causam 6.

Na sua apreciação, ele faz referências aos estóicos, filósofos que desenvolveram uma profunda doutrina da ansiedade, e cita os seguintes trechos de Sêneca e Epícteto, respectivamente: “nada é terrível nas coisas, exceto o medo”, “porque não é a morte, ou a privação, que é uma coisa terrível, mas o medo da morte e da privação”7.

Realmente. Se considerarmos a morte, observamos que morremos um pouco a cada instante. A morte, como momento final, apenas completa esse processo. Os horrores relacionados a ela desaparecem, uma vez que se retira a máscara da imagem da morte.

Analogamente, podemos supor que os medos introjetados podem conduzir os indivíduos a uma situação de não enfrentamento, impedindo assim, suas possibilidades de realização e conseqüentemente, de ser feliz. Quando se ousa, num processo de enfrentamento, percebe-se que a situação opressora é menor do que nos fizeram acreditar. O pai, o patrão, a igreja, o governo ou outro qualquer é redimensionado.

Evidentemente, que num contexto mais amplo, como o social, é necessário que o combate à situação opressora seja feita em união com outros, igualmente oprimidos.

Mas, não podemos nos esquecer de que a ação opressora se dá de modo diferente, de acordo com o contexto sócio-econômico do indivíduo.

Além disso, a mesma situação opressora é vivenciada de maneira particular por cada pessoa de uma mesma classe social. Sendo assim, o seu comportamento frente à opressão será conformista ou de confronto e de luta, de acordo com a sua percepção, que, por sua vez, é influenciada por fatores bio-psíquico, históricos e sócio-culturais.

AUTO-REALIZAÇÃO: A EXPRESSÃO DA FELICIDADE

Em minha experiência, como terapeuta de adultos, tenho constatado o quanto tem sido efêmera a vivência da felicidade e o quanto têm-se que ousar para experiencia-la.

Freqüentemente, tenho ouvido expressões que a coloca como algo inatingível ou expressões que parecem conter em si um medo de ser feliz. Se assim for, como se explica o fato de sentirmos medo de algo que é sinônimo de contentamento e prazer? Ou, ainda, tendo em vista que o medo é um sentimento de inquietação e de apreensão diante de um perigo real ou imaginário, que perigo pode existir no ato de ser feliz?

Percebo no adulto, infelizmente com relativa freqüência, um ar entediado diante das coisas. Sua alegria parece ter se esgotado ou se deformado, envolvida por culpas e medos. Em alguns sua ausência chega a ser crônica. Seu envolvimento consigo mesmo e com os outros é tolhido. Realizam suas tarefas sem prazer, como autômatos. São conduzidos, não se autodeterminam. Não vivem, debatem-se entre culpas e medos, e apenas conseguem passar pela vida sem nunca tê-la vivido de fato.

Tal constatação difere, radicalmente, daquela que temos ao observarmos uma criancinha de poucos meses, cujas necessidades básicas tenham sido supridas. Ela se realiza ao explorar o ambiente. Seu envolvimento com o brinquedo é total. A curiosidade e a alegria soam como sinônimos de felicidade. A espontaneidade é a tônica do seu comportamento. O adulto que consegue manter a curiosidade, a espontaneidade e a alegria é, comumente, comparado a uma criança, quando não é considerado infantil, no sentido pejorativo.

O contraste observado, entre essas duas etapas da vida humana nos sugere, em alguns casos, uma certa patologia. Talvez pudéssemos chamá-la de síndrome da não-realização pessoal. Pois ao longo do seu processo de aculturação, o indivíduo é, muitas vezes, obrigado a mentir a si mesmo e a adotar, como sendo seus, valores de pessoas que lhe são significativas ou da cultura em que está inserido; reprimindo, assim, aspectos pessoais importantes, quando não a própria tendência autorealizadora, o que o torna triste e apático. A necessidade universal de atenção e de consideração lhe é suprida de modo condicional, obrigando-o a pagar um preço muito alto por essa “mordomia afetiva”: a anulação de si mesmo, quase sempre.

A realização do potencial humano parece ser a condição para uma sociedade mais criativa e feliz.

Mas, os governantes, de um modo geral, são arrogantes e desconsideram a necessidade de expressão dos indivíduos. Os depoimentos de Alexei Matushkin e Irina 8 exemplificam esse fato.

Eles relatam que o homem russo, após a revolução, sofreu um processo de “massificação” violento, perdendo sua identidade pessoal. Ele já não sabia o que era bom para si, guiando-se tão somente pelo partido. Deixou de crescer como pessoa para tornar-se uma peça da Revolução. Tornou-se desconfiado, infeliz e coletivizado.

Com a Perestróika, o governo tenta resgatar a verdadeira identidade do homem russo, através de sua realização pessoal. A psicologia humanista é valorizada. Mas, o homem sofrido, caminha lenta e desconfiadamente.

Na maioria das sociedades, para realizar o seu potencial, o indivíduo se vê diante de barreiras que surgem de toda parte, bloqueando a concretização do que ele poderá vir-a-ser. Autoritarismo, preconceito, descaso e miséria são os mais comuns. Diante de tantas adversidades, para fluir de maneira plena, é necessário muita coragem.

A afirmação do ser essencial de alguém (diz Tillich) a despeito de desejos e ansiedades, cria a alegria. (…) A alegria acompanha a auto-afirmação de nosso ser essencial, a despeito das inibições provocadas em nós pelos elementos acidentais. A alegria é a expressão emocional do corajoso. Sim ao verdadeiro ser próprio de uma pessoa. Essa combinação de coragem e alegria mostra mais claramente o caráter ontológico da coragem. Se a coragem é interpretada sozinha em termos éticos, sua relação com a alegria da auto-realização permanece escondida. No ato ontológico da auto-afirmação do ser essencial de uma pessoa coragem e alegria coincidem 9.

É importante, ainda, que o homem se autoconheça, goste de si próprio e aprenda a usar a si mesmo de um modo que lhe proporcione satisfação e realização.

A totalidade do ser precisa ser contemplada para o desenvolvimento pleno de suas possibilidades. As diversas dimensões do seu ser bio-psico-sócio-cultural necessitam ser consideradas igualmente.

Por preconceito, o aspecto espiritual da dimensão cultural não tem sido considerado adequadamente. A Psicologia Transpessoal, um moderno ramo da Psicologia, procura resgatar essa realidade, através de aprofundadas pesquisas.

Rogers, corrobora esse posicionamento, ao relatar sua experiência; experiência, aliás, que vem sendo confirmada por inúmeros psicólogos:

Percebo que quando estou o mais próximo possível do meu eu interior, intuitivo, quando estou, talvez, num estado ligeiramente alterado, então tudo o que faço parece ter propriedades curativas. Nestas ocasiões, a minha presença, simplesmente, libera e ajuda os outros. (…) Parece que o meu espírito alcançou e tocou o espírito do outro. Nossa relação transcende a si mesma e se torna parte de algo maior. Então ocorrem uma capacidade de cura, uma energia e um crescimento profundo 10.

O Corpo precisa estar livre de bloqueios para que a energia possa fluir livremente, dando ao homem melhor condição de usufruir o prazer plenamente. Sua sensibilidade, seu senso ético e estético, seu raciocínio lógico e o seu potencial criativo devem ser estimulados, conduzindo-o à realização. Precisa aprender a se relacionar com as outras pessoas de uma maneira satisfatória. “Como a nossa cultura é comunitária, isso significa que deve atuar de modo a que a integração humana seja compensadora para todos nela envolvidos.” 11

Além disso, para viver plenamente, o homem precisa ser honesto e aberto à experiência. Qualidades que são cada vez mais raras. Ser honesto consigo mesmo e com os outros. Agir sem ambigüidades é difícil e arriscado, mais enormemente compensador. Pois, “a integridade aprofunda e enriquece os relacionamentos, dando origem a sentimentos de intimidade e calor humano, raros na maior parte de nossas experiências.” 12

Mas, para tanto, é necessário que suas necessidades básicas sejam supridas. Que ele possa exercer sua capacidade produtiva de uma maneira digna e satisfatória. Que ele não seja cerceado, humilhado e explorado de maneira desumana por aqueles que detêm o poder e que só se sentem poderosos usando esse poder sobre as outras pessoas.

É imprescindível a realização do potencial humano, se quisermos uma sociedade harmônica e criativa, coesa e solidária.

CONCLUSÃO

O espaço social é também o espaço da união dos indivíduos. A fala autêntica só será proferida por cidadãos livres, que tenham garantidas, neste espaço, suas falas individuais – expressão verdadeira das suas idéias, dos seus sonhos, do seu pensar discordante e dos seus sentimentos.

A sociedade não tem contribuído muito para a realização do potencial humano. Assim sendo, as oportunidades de crescimento pessoal e social têm que ser conquistadas. A construção de si mesmo e de uma sociedade mais justa, humana e facilitadora do crescimento de seus cidadãos, requer coragem. Somente assim o mundo poderá vir a ser como no sonho idealista de Rogers:

Este mundo será mais humano e humanitário. Explorará e desenvolverá as riquezas e capacidades da mente e do espírito humanos. Produzirá indivíduos que serão mais integrados e plenos. Será um mundo que valorizará a pessoa individual, o maior de nossos recursos. Será um mundo mais natural, com um renovado amor e respeito pela natureza, desenvolvendo uma ciência mais complexa e humana, baseada em conceitos novos e menos rígidos. Sua tecnologia objetivará o engrandecimento das pessoas, ao invés da exploração delas e da natureza. Liberará a criatividade, à medida que os indivíduos sentirem o seu poder, suas capacidades, sua liberdade.

Os fortes ventos da mudança científica, social e cultural estão soprando fortemente. As enormes perturbações da sociedade moderna forçarão uma transformação para uma ordem nova e mais coerente. E nessa ordem parece crescer uma nova visão do mundo, a relação, um renovado amor pela natureza e por cada pessoa, uma compreensão da unidade espiritual do universo. Deve ser um mundo mais humano, com mais lugar para indivíduos que são integrados e totais. Esta é, pelo menos, minha entusiasmada esperança 13.

Mas, não devemos nos esquecer que os sonhos só serão transformados em realidades com ousadia. E que ousar significa correr riscos, significa estar entre duas possibilidades: a do sucesso e a do insucesso. Como bem ilustra Perls, com a sua experiência de vida:

Um dos momentos mais importantes da minha vida foi depois de ter escapado da Alemanha, quando havia um lugar disponível para um analista de treinamento na África do Sul, e Ernest Jones queria saber quem queria ir. Éramos quatro: três queriam garantias. Eu disse que correria o risco. Todos os outros três foram apanhados pelos nazistas. Eu corri o risco e ainda estou vivo 14.

Correr riscos não nos dá garantias, mas é a única forma de nos sentirmos vivos, livres e talvez felizes.

NOTAS FINAIS

1. “Aula da Saudade, ministrada aos concluintes dos Cursos de Licenciatura e Graduação em Psicologia da UFPB, em 06.04.1990, apresentado, posteriormente, no IV Encontro Nordestino da Abordagem Centrada na Pessoa, em Caucáia, no Ceará. As Críticas e sugestões deverão ser encaminhadas ao seguinte endereço eletrônico: sonia@netwaybbs.com.br

2. Professora-adjunta do Departamento de Psicologia da UFPB, membro-fundador do Núcleo de Estudos da Abordagem Centrada na Pessoa – PB, sócia-fundadora da Associação Nordestina de Psicologia Humanista Existencial, sediada em Recife.

3. Organismo, neste contexto, refere-se a totalidade do ser nas suas diversas dimensões: bio-psico-sócio-cultural.

4. Citado por Lowen, 1984, p.17.

5. Schutz, 1974, p. 19.

6. Nossos desejos incontrolados (diz Tillich )é que criam máscaras e as colocam em homens e coisas. A teoria freudiana da libido é antecipada por Sêneca, porém num contexto m ais amplo. Ele distingue entre desejos naturais, que são limitados, e aqueles que brotam de falsas opiniões e são ilimitados. Desejo como tal é ilimitado. Em naturezas não distorcidas é limitado por necessidades objetivas e é, portanto, capaz de satisfação. Porém a imaginação distorcida do homem transcende as necessidades objetivas (“Quando perdido – seus desvios são ilimitados”) e com elas nenhuma satisfação possível. E isto, não desejo como tal, produz uma ‘tendência insensata (inculta) para a morte (Tillich, 1972, p.11).

7. Cf. Tillich, 1972, p. 10 e 11.

8. Casal de psicólogos russos, que participaram do IV Fórum Internacional da Abordagem Centrada na Pessoa, realizado no Rio de Janeiro, em agosto de 1989. Ele era, na ocasião, o diretor do Institute of General and Educational Psychology da Universidade de Moscou, e ela, a sua assistente.

9. Tillich, op. cit., p. 11.

10. Rogers, 1983, p.47.

11. Schutz, op. cit., p. 17.

12. Ídem, ibdem, p. 10.

13. Rogers, 1983, p. 19. Cf. Tillich, 1972, p. 10 e 11.

14. Perls, 1977, 2ª ed., p.

BIBLIOGRAFIA

Lowen, Alexander, Prazer, Summus Editorial, São Paulo, 1984.

Perls, Frederick S., Gestalt-terapia Explicada, Summus Editorial, São Paulo, 1977, 2ª edição.

Rogers, Carl R., Um jeito de Ser, EPU, São Paulo, 1983a

Rogers Carl, Em Busca de Vida, Summus Editorial, São Paulo, 1983b.

Schutz, William C., O Prazer, Imago, Rio de Janeiro, 1974.

Tillich, Paul, A Coragem de Ser, Paz e Terra, RJ, 1972, 2ª edição.